sábado, 7 de novembro de 2009

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Hoje é um daqueles dias de parêntesis. Parece que viro a Sofia do livro de Jostein Gaarder e subo no alto do pêlo do coelho para ver tudo. Minha sensibilidade está exacerbada e por isso a capacidade de aprender e sentir é um fenômeno sinestésico. Grandes eventos, emoções fortes e marcantes me fazem ficar assim. E eu vivo dentro desse parêntesis até que as coisas voltem para a sua medíocre normalidade.

Nessas horas consigo me enxergar como eu mesma, dentro de meus defeitos, consciente de minhas escolhas, por mais erradas que sejam. Consigo me ver como ser humana falha e me aceitar ao mesmo tempo. É como uma mulher vaidosa aceitando suas rugas. Porque elas denotam sua experiência, maturidade e jogo de cintura na vida.

Chegando aos 25, ¼ de século, confesso modestamente que já tenho meus sinais de idade gravados subjetivamente em algum canto do meu ser. Dores, fugas, amores, desejos...e a sabedoria de confessar quando perdi, quando o tempo passou demais e o instante foi perdido. E ao mesmo tempo, a certeza de que existem coisas que nunca mudam e que nunca conseguirei deixar que passem por mim sem que sinta inteiramente vontade de vivê-las, agarrá-las e nunca mais deixá-las longe. Dessa inexatidão e antítese se faz a vida. Pela dualidade de sentimentos, pela capacidade de soltar-se ao seu bel prazer, deixar que os caminhos se façam, certos de que, quando nos compreendemos e nos amamos, aceitando nossa dura mas real forma de ser, somos capazes de ser vencedores, independente das condições do jogo.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

crônica de um dia qualquer

Hoje o tempo voltou às boas comigo. E ficou por instantes de mãos dadas com meu tédio, mas logo se rebelou. Mostrou que é senhor dos destinos mesmo, bagunçou o sentimento de quem estava de bem com a vida. Cobrou-me em prazos e escandalizou o que havia de justo em mim. Fez-me preguiçosa e culpada, a mistura mais vil que poderia existir.

Deu-me mar, céu azul, gargalhadas e música em alguns dias. E passou ligeiro, como quem não quer assumir autoria, sair de fininho deixando apenas o rastro do perfume. Chegou implacável ao fim do dia, cobrando por enigmas. Obrigou-me a entrar na bagunça interna e externa, ré de sua acusação, sem argumentos, muito menos técnicas de defesa.

Já hoje mostrou o outro lado da pressa. Aquela que deixa a angústia particular e minha testa franzida, rugas, não as quero, pelo menos ainda. Testando minha autoconfiança e atestando minha mediocridade quando o que se está em questão é cumprir com as metas que sonhei realizar. Fazendo-me sangrar para mostrar que sou humana. Como qualquer outro que vaga pelas ruas, senta em cadeiras de escritório, vira as páginas de calendário e afirma “meu Deus, o Natal já está aí, é novembro”. Um exército de cumpridores de rotina, marchando para os mesmos fins, iludindo-se com suas metas-de-cera, reais, mas tão falsas e cíclicas, tão destinadas a morrer no simples ato de nascer.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

eu e a noite

Adoro madrugadas. O silêncio na casa, a sensação de estar sozinha, comigo. Parece que tudo fica mais possível de ser feito e analisado. A noite, a lua, tudo parece ter um sentido diferente. Enquanto os outros dormem, eu acordo para a noite, e sempre fui assim.

Lembro quando a madrugada significava para mim momentos de cumplicidade com a minha mãe. Minhas irmãs já estavam na cama, assim como meu pai, que sempre cochilava no sofá bem cedo. Era como se fosse um segredo nosso: era hora de pegar as provas dos alunos dela e corrigir. Eu ajudava somando as notas e registrando alguma coisa no caderno de chamada. Sentia-me importante, adulta e até olhava e entendia o Programa do Jô que ficava como plano de fundo daquelas nossas noites, momentos divididos por amigas e não só por mãe e filha.

Hoje a noite pra mim continua sendo especial. Sou uma boêmia assumida, adoro ficar sentada em um barzinho na companhia dos amigos, jogando papo fora, acompanhado por uma bebida gostosa de degustar. Mas o melhor da noite é caminhar nas ruas. Cada esquina e avenida se revela com a inexistência dos sons do dia-a-dia, sem aquela agitação alienadora que experimentamos nas áreas urbanas com o sol a pico. Gosto de sentir o vento batendo forte no meu rosto, revirando meus cabelos...a noite e o vento sempre parecem ser meus cúmplices e por isso o medo, infelizmente em alguns contextos, nunca me acompanha. Voltar para casa, quando posso caminhar sozinha, é um dos exercícios mais relaxantes e revigorantes que existem. Uma daquelas inúmeras coisas que sabemos que são proibidas, mas nos damos o direito de vivenciar, por prazer. Nem que seja por um dia apenas.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

muito menos

Cheguei correndo na parada, mais uma vez, sempre atrasada. É preciso calcular o tempo do engarrafamento, sair antes para chegar depois. Nunca decoro os ônibus que me levam até onde quero ir, preciso perguntar “moço, pára na esquina da Vicente?”. Parece que dessa vez tive sorte, acertei de primeira e o ônibus estava quase vazio. Fones de ouvido, bocejos. Olho para o lado e passa um ônibus, simplesmente, com pessoas saltando pelas janelas. O contraste entre o meu espaço e o que eu observava me fez pensar no quando o muito, às vezes, é negativo. Muito dinheiro no bolso é bom, muita gente no ônibus é estressante e incômodo. Mais uma vez, a relativização das coisas me faz refletir. Não é possível estipular o certo e o errado, encerrrar essas definições dentro de conceitos imutáveis. Eu enxerguei mais uma vez os rostos de tantas cores e expressões passar por mim, que confortavelmente acomodada, olhava pela janela. Porque será que a gente acha então que excesso de algumas coisas pode fazer bem? Até amor demais desgasta, perde a graça, se esvai. Até amor que em si, já é algo bom. A figura da balança me vem à mente, e eu mais uma vez me convenço da necessidade de equilíbrio de que a vida precisa. Dosar sentimentos, atitudes, ponderar um pouco mais antes da necessidade de ação. Eu segui minha viagem, buscando entender como chegar até esse ideal de....sei lá....um ideal, já é algo irreal em si.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A fumaça sobe, o horizonte não é o mesmo
Nem ela é mais aquela menina que no céu estrelado pensava coisas vazias
Memórias e fases...o tempo passou
Cada ano é diferente, mas as perguntas se repetem

Hoje as estrelas parecem mais distantes
O céu de Porto Alegre não é o mesmo que ela viu há anos atrás
Uma sacada, uma janela...um horizonte para testemunhar pensamentos
Tantas dores passaram, tantas pedras se retiraram

Uma vida se traça em alguns segundos
Escolhas, felicidades, morte e desejos
Tantos que transbordam dentro de um só ser
Como dizer ao céu que era até ele que eu queria chegar?
Como explicar para a vida que é nela que quero provar
Novos sabores, novos jeitos de ser eu mesma
Passar pelo medo sem perder os detalhes da vida
Um gole de cerveja, um olhar, conversas de bar

Foram muitos os momentos mas eu ainda estou aqui
Querendo descobrir mais uma das muitas Clarissas que existem em mim
As roupas estendidas no varal ainda molhadas
A umidade desses dias que não evapora
Os sentimentos que em mim não passam
Dúvidas e a eterna certeza de que sempre vou querer ser mais

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

valores


O princípio parece tão simples, como uma peça de quebra cabeça que precisa de um desenho específico para se encaixar na outra. Não que para relações amorosas exista a “peça” perfeita, ou a alma gêmea. Mas algo que, simplesmente, se encaixe. Já bem dizia meu pai “Um peixe e um pássaro podem se amar, mas onde construirão seu lar?”. Para o desespero dos que acreditam que os opostos se atraem, essa verdade cada vez me parece mais aceitável. E rende reflexões que me acalmam e justificam muitas coisas de meu passado amoroso.

Ele pode gostar mais de preto e eu mais de branco. Ele pode amar bife de fígado e eu odiar. Ele pode gostar de dias de sol escaldante e eu de dias de vento no inverno. Mas ele não pode colocar o apego com seus bens antes do apego com a nossa relação. Ele não pode não valorizar a família, ser mesquinho ou descartar sentimentos de sua vida facilmente. Ele não pode não encarar seus erros, não dar o braço a torcer, não querer crescer. Porque o contrário de tudo isso são mais do que simples características minhas. São meus valores.

E a gente tenta encaixar coisas que não se encaixam. Tentamos persistir em ilusões, sonhos que montamos, sem enxergar que a incompatibilidade sempre foi gritante. Adaptar em uma relação? Sim, com certeza, mas o que se pode adaptar? Nada que mude nossa essência, que nos deixe de acreditar em nossas vontades e sonhos. Nada que nos faça mudar, ser menos românticos, cobrar menos atenção, deixar de lado, nós mesmos. É nessa hora que o que devia somar começa a diminuir...e o afastamento se torna a única via a ser encarada.

Valores vêm de berço, os construímos através de nossas experiências, de cada passo em falso, de cada lágrima que lapidou nossa personalidade. Mas também de coisas inexplicáveis. A nossa fé, a maneira que tratamos as pessoas, a necessidade de mais ou menos individualidade, o perfil aventureiro ou caseiro... Por isso que o autoconhecimento é o precedente de uma relação verdadeira e saudável. Bingo!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

um senhor bonito

Tive que deixar de lado a matéria ainda inacabada da revista e a apresentação para a defesa do trabalho de conclusão da pós de lado, para abrir a minha brecha no tempo, olhar pela janela, dar um suspiro em meio a essa respiração frenética e incessante que é a vida. Emoções diferentes, a todo momento, me circundam. Reajo de várias formas. Às vezes com revolta, outras com preguiça e desistência e, em alguns instantes, dando minha mão, emprestando minhas lágrimas para chorar também a dor de quem me rodeia. E então, ele vem me dar a resposta. Não foi à toa que soou em minha cabeça o dia todo, no modo repeat, uma das pérolas do Caetano, - tempo, tempo, tempo, tempo, compositor de destinos, tambor de todos os ritmos – a música que me fez decifrar algumas das dúvidas existenciais que tenho. Ele é minha certeza e minha esperança. Porque passa e ninguém pode contestar, está ali, no barulho constante dos ponteiros que marcam instantes que a gente não pode mudar, não pode prever ou controlar. Eu fiz um acordo com ele assim como o nosso compositor. De confiar em sua exatidão, em sua sabedoria, em sua implacabilidade que não tem modéstia e nem piedade. Mas que sabe dar presentes àqueles que merecem, àqueles que souberam fazer de seus caminhos tortuosos formas de lapidar a alma. Admiro este deus, e entrego, um pouco da minha vida em suas mãos, porque responsabilizar-me sozinha por minha felicidade tem sido um fardo árduo demais – e quando eu tiver saído para fora do teu círculo, tempo, tempo, tempo, tempo, não serei, nem terás sido.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

disciplina

sim, acabou a mamata, é chegada a hora de ter disciplina. e você vai dizer que já acorda cedo, que já preenche os pré-requisitos da vida em sociedade e é obrigado a inúmeras restrições que castram a sua impulsividade, todos os dias. mas não basta só isso. é preciso mais.

você não é mais criança e seus pais não estão ali, toda hora para dar os limites, tão frustrantes quando somos pequenos, mas tão vitais para que possamos ser humanos nesse vasto mundo de diferenças e intempéries. agora é você quem cria suas próprias negativas necessárias. coma menos carboidrato, faça mais exercício, tenha horários diários para a leitura e menos para o lazer. evite vícios, durma cedo, gaste somente aquilo que você havia programado gastar. seja um ser humano autosuficiente. seja, cada dia, melhor.

aquela frase cretina, mas real, que diz que 90% do sucesso é transpiração e não inspiração, fará sentido, depois de alguns anos de sua vida. nada se conquista por acaso. a sorte, que pode ter te acompanhado durante os anos da faculdade, terá te abandonado ou te visitará bem menos. nem a facilidade em sala de aula, que era uma de suas desculpas para não estudar tanto no ensino fundamental, hoje será apenas uma das inúmeras características de seus concorrentes no mercado de trabalho. a cada dia parecerá mais insuficiente toda a bagagem que você acumulou até aqui.

é preciso ser mais, ser melhor, ser flexível e adaptável, seguindo a lei de Darwin, onde os mais fortes e mais inteligentes não ficavam no topo da pirâmide. o segredinho de "fazer a diferença" continua valendo, talvez bem mais que antes. superar-se dentro de suas próprias condições. traçar metas, pensar no futuro, esboçar um plano de vida para os próximos anos...não deixar de lado a vida pessoal, fazer com que ela ande concomitantemente com o seu lado profissional. somente tentar fazer tudo isso já alivia a consciência e nos faz seres humanos mais comprometidos com a razão de nossa própria existência.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

divagações textuais

Faz dias que sinto aquela coceirinha de escrever. Dentro da lotação, sozinha, desperdiçando meu tempo no engarrafamento de 30 minutos pra descer a Garibaldi da Independência até a Ir. José Otão. Mil ideias surgem, como fogos de artifício criativos. Mas não há papel, nem intimidade para poder expressá-las em alguns momentos.

Quando um tema parece ter sido eleito, logo perde seu significado, e se esvai como essa cerração de hoje de manhã (o sol ainda não rachou), perdendo a substância que embasariam os meus argumentos, tornando-se algo tão banal como falar de rotina. Surgem novos motes para o meu texto. A engraçada permanência de alguns rituais em nossas vidas, a percepção de que os anos estão passando pela quantidade e tipos de convites para esses rituais que você começa a ser convidado (eu agora estou na fase dos casamentos, meu avô no último fim de semana reclamou que não agüenta mais ir a velórios). A minha revolta pela agenda setting da mídia, que cria fenômenos por si só, como foi essa semana com a Gripe A, foi outra das minhas ideias. Em dois dias, tivemos solicitações de toda a imprensa, seja impressa, televisiva, digital, para saber o mesmo e tão insignificante fato, ao meu ver. A gripe já é pandemia, todo mundo sabe que ela mata menos do que a influenza que estamos acostumados a contrair todos os anos, mas mesmo assim, a reação dos órgãos públicos e outras instituições a esse vírus merece páginas e páginas de jornal.

Passaram assuntos e nenhum embasou o meu texto. A verdade é que até para escrever dependemos do tal “instante mágico” ou do “momento decisivo” que tanto sabia capturar Henry Cartier Bresson, um dos melhores fotógrafos que o mundo já viu. Se passa a coceirinha, pronto, lá de foi, sublimado no espaço, aquele texto, aquela construção de argumentos e palavras arranjadas, única, que se fez e não foi impressa em nenhuma interface que o pudesse eternizar. O tempo passou e muitas das minhas divagações se perderam nesse tempo de lacuna. Mas o bom é que até a própria narrativa desse dilema, já o remedia. Habemos textum!

terça-feira, 16 de junho de 2009

príncipes desencantados

Basta uma mulher nascer, ler um conto-de-fada, construir em sua imaginação um príncipe encantado para que, alguém mais experiente (ou insensível), corte suas ilusões com uma frase-lâmina: menina, príncipes encantados não existem! Ok, não esquecemos que eles tem chulé, assistem a jogos intermináveis de futebol enchendo a sala de latinhas de cerveja, discutem a relação de corpo presente e pensamentos em lugares que você nem quer imaginar quais são. Mas nem por isso deixam de ser príncipes.

Homens-príncipes, de carne e osso, não sentem vergonha de amar, muito menos de estar ao lado de uma mulher e construir uma vida juntos. Dividem as contas no restaurante e mandam flores em um dia comum, não em datas comemorativas. Sabem surpreender, te ajudam com as compras do mercado e te dão a mão para subir mais alto. São fortes em seu 1,80m ou 1,60m de altura. Futebol é uma paixão, não maior que sua profissão ou sua família. Homens fortes não precisam de fanatismos como única forma de demonstrar amor. Fazem isso quando o sentem, com consciência e tranqüilidade.

Sabem identificar a beleza de uma mulher através de seus olhos. São ambiciosos na medida em que seus sonhos os alavancam para posições reais e desejadas com maturidade, mas mantém os pés no chão. Não prometem, executam. Falam menos e fazem mais. São reais e admitem um passo em falso. São seguros o suficiente para compreender que a sua amiga precisa de uma noite para assistir filme e dormir ao seu lado na cama. Pedem a sua ajuda e oferecem aquela que eles podem te dar, como um bom e velho amigo de infância. Sem mentiras ou enfeites. Príncipes não apelam para o cavalo branco e a capa cravejada de pedras preciosas para conquistar uma mulher.

E ainda te dão aquele beijo de deixar sem ar, te conduzem até o altar, cartório ou à porta do novo apartamento que vocês compraram juntos, em suaves e numerosas parcelas que parecem nunca acabar. Ainda te dão um final feliz. A cada dia em que vocês deitam juntos na cama, num acordo silencioso de lutar por um amanhecer mais tranqüilo. Sim, alguns homens que perambulam por aí ainda são os personagens que sonhamos outrora. Porque estão ali por nós e nos amam. Para reconhecer um príncipe é preciso analisar bem mais que uma chegada triunfal ao castelo ou o brilho impecável de seus cabelos à luz do sol. Você terá que ler nas entrelinhas e assumir a realidade dos bastidores para encontrá-lo. E não será por falta de encanto que esse encontro deixará de existir. Sendo um conto-de-fadas ou não, qualquer história que traz em seu roteiro características essenciais fortes o bastante para sustentá-la supera erros reais, perdoáveis e compreensíveis.

equilibrista

tem dias que acordo com espírito de artista mambembe
querendo viver de minha arte, de minhas estripulias
sonhar, criar, cantar uma canção em troca de algumas moedas rotas
vagar por estradas novas em busca de inspiração

ler poesias, ensaiar falsetes, chamar o Antônio e cantar até a noite cair
jogar cartas e beber na companhia dos amigos
cantar as minhas próprias músicas, com composição única e em consonância com meus sentimentos
dar vazão a tudo que sou por dentro de forma mais enfeitada, cheia de lirismos e versos

mas tem dias que acordo lógica
amante da exatidão da matemática, querendo ser a rainha dos processos
dizer que se x é y e se y é m, logo x é m
cumprir prazos, riscar itens da agenda
vibrar com o fim de um expediente e me declarar escrava da rotina

porque tudo que é mais palpável, real, nos dá conforto
e tudo que é solto, livre, nos faz sentir inseguramente felizes
e desses dois opostos vivemos, ora cedendo ao céu, ora ao inferno
equilibristas de uma corda bamba que nunca terá fim
e nos fascina, sim, nos fascina...

domingo, 14 de junho de 2009


Minha fé está ali, por diferentes caminhos que eu possa escolher, por qualquer ato que venha experimentar. E quando me sinto fraca, por ter agido diferente do que planejava, por ter dado um passo infalso, ainda estou de mão com ela, como uma criança que sempre precisará de apoio.

Andando na rua num dia bonito de sol, ela me pisca do alto e me faz sentir profundamente o quanto sou especial unicamente por existir. As dificuldades parecem menores nesses momentos e recobro a confiança em mim, acredito em minha força, em cada uma das minhas escolhas.

E mesmo quando a abandono para viver mais no mundo real, sempre é hora de retornar e encontrá-la intacta dentro de mim. Porque existir e ser humana, única e especial é se conectar com o que somos. Termos consciência de nosso crescimento, dos obstáculos que precisamos alcançar.

Nos dias em que choro, que não acredito na beleza das coisas, sempre sei que a hora em que me encontro com minha fé é a hora em que terei paz em meu coração. A resposta para todas as aflições, a certeza de que sou bem mais do que qualquer impedimento que a vida possa colocar em meu caminho.

E que no final de tudo, levarei o que de mais valor vivi, aprendi e conquistei. Viverei eternamente em minha fé, na certeza de que precisei nascer, caminhar e lutar por cada presente que alcancei aqui, deixando de lado, assim, as inseguranças e o medo que habitaram em mim.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

as duas dores

O objetivo do blog não é reproduzir textos, mas esse eu não poderia deixar de postar aqui. Obrigada Dai, que me passou esse texto em um momento muito oportuno.

Existem duas dores de amor:A primeira é quando a relação termina e a gente,seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro,com a sensação de perda, de rejeição e com a falta de perspectiva,já que ainda estamos tão embrulhados na dorque não conseguimos ver luz no fim do túnel. A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel. A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços, a dor de virar desimportante para o ser amado. Mas, quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida:a dor de abandonar o amor que sentíamos. A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre,sem sentimento especial por aquela pessoa. Dói também…Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou. Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém. É que, sem se darem conta, não querem se desprender. Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um souvenir,lembrança de uma época bonita que foi vivida…Passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação à quala gente se apega. Faz parte de nós. Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis,mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo,que de certa maneira entranhou-se na gente,e que só com muito esforço é possível alforriar.É uma dor mais amena, quase imperceptível.Talvez, por isso, costuma durar mais do que a ‘dor-de-cotovelo’propriamente dita. É uma dor que nos confunde.Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. A pessoa que nosdeixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos porela, aquele amor que nos justificava como seres humanos,que nos colocava dentro das estatísticas: “Eu amo, logo existo”.Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo.É o arremate de uma história que terminou,externamente, sem nossa concordância,mas que precisa também sair de dentro da gente…E só então a gente poderá amar, de novo.
(Martha Medeiros)

segunda-feira, 1 de junho de 2009

a flor

Ela pega a flor do vaso, a tira da água, pensando que assim seria mais fácil lhe tirar a vida. Um movimento simples, rápido e a beleza das pétalas vermelhas estaria intacta, em um momento último antes que o tempo a fizesse murchar por inteira. O perfume ainda está no ar, mas não é o mesmo. A flor perdeu já a cor. Não é mais como a primeira que colheu no jardim do avó, jovem, fresca, envolta de uma ilusória história. As coisas perdem seu sentido. Se ressignificam a todo momento.

Agora as flores são compradas em floriculturas e não mais retiradas em manhãs de frio, sob o orvalho que imprime suas gotículas únicas em cada folha verde-musgo que ela admirava quando criança. Uma, duas, três. Iguais, parecem terem sido feitas em uma máquina de flores manufaturadas. Buquês enormes, alegóricos, mas sem sentido. Nenhuma outra flor se parece com aquela que ela colheu em seu jardim, lendo histórias que a faziam acreditar que as flores eram únicas.

Agora, começa a aprender que é necessário apreciar outras flores. De outras cores, procedências, nascidas em terras que ela não conhece. Abrir a cabeça e o coração para aceitar coisas novas. Entender que é preciso preparar o olhar também, para encontrar novos encantos. Porque se a imagem da primeira flor estiver ainda retida em seus olhos, como poderá ela encontrar uma nova beleza?

terça-feira, 19 de maio de 2009

welcome to twitter

fui apresentada ao twitter, um pássaro azul simpático, em uma das aulas de tendências da propaganda, da minha pós-graduação em comunicação com o mercado. entre os inúmeros recursos trazidos por essa maravilha que nos conecta em qualquer parte do globo, a internet, essa foi mais uma das propostas que me chamaram a atenção. mas não fiz meu profile naquele instante. acredito que todas as idéias, por mais instintivas que sejam, precisam ser amadurecidas.

o twitter me seduziu por aquela coisa maluca de exercitar meu poder de síntese e comprimir pensamentos em míseros 140 caracteres. logo eu que adoro a escrita literária, romântica, o excesso de adjetivos, a inexistência de letras maiúsculas e a economia de acentuação (porque esses recursos são supérfluos, prestar atenção na técnica nos desvia do conteúdo). logo eu, jornalista com pavor de jornalismo diário (para trabalhar, para apreciar...hum...de vez em quando). pois me rendi ao twitter. deixei que o passarinho me levasse.

agora estou naquela fase de namoro e me deixo surpreender quando recebo um "convite" do marcelo tas para assistir a um debate dele na MTV sobre a suposta morte mídia impressa. ou quando fico sabendo que enquanto eu faço hora extra, o wagner moura vai curtir um happy hour com o lázaro ramos, o vladimir brichta e o lucinho mauro. e exercitando essa fetiche de voyer, consigo entender que a maluquice da instantaneidade e volatidade das mensagens jogadas nas redes sociais dá uma tranca no mundo privado e nem se desculpa. e isso não é feio. pasmem, é lindo.

sou uma menina fascinada por tecnologia e sugo dela tudo o que posso, tudo o que em minhas mãos, olhos e antenas possa chegar. atribuo tudo isso ao meu ascendente em aquário, signo de gente antenada, que segue tendências. conseguir estar conectada a todos, ter acesso a informações, opiniões, a todo segundo é algo que me fascina. é claro, sempre há o outro lado, a reflexão sobre a profundidade desses contatos, a relevância dessas ações. mas para uma sociólatra, uma viciada em gente, em falas, em expressões, estar ligada, seja no twitter, no msn, no orkut ou qualquer outra plataforma virtual não deixa de ser um vício interessante. mais um para a minha coleção.

se você não sabe o que é twitter, você tem problemas. não é uma questão de fazer parte, mas de saber. conheça primeiro, depois decida.
digite www.twitter.com na barrinha branca do seu navegador e tente entrar nesse mundo. ou não.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

gotas...

Dia de chuva, alma longe, vontade de entrar pra dentro da gente.
Que a água dessas gotas possa limpar dentro de mim qualquer pedaço de desilusão.
Trabalho dobrado é distração para os sentimentais que mergulham dentro de si mesmos.

(Covardia não ter um botão de pause dessa vida agitada, frenética, maluca, que suga a gente).

Fim de semana se aproxima, e nele reside toda a esperança minha, concentrada em uma noite e dois dias para ser um pouco mais feliz.
Escutar uma boa música, levitar na dança, eterna apaziguadora dos conflitos que temos por dentro. Ela distrai, ela nos faz ver com olhos diferentes cada novo foco de atenção que se sobrepõe a nós mesmos.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

colcha de meninas

um apartamento que é uma empresa e uma casa ao mesmo tempo. nele, moram dois personagens de uma história que vai ter seu primeiro final-feliz-de-contos-de-fada em julho. um menino exagerado, que compra 17 bandejas de salgadinhos e uma menina ranzinza e engraçada ao mesmo tempo. cabem bem mais adjetivos nela.

uma morena de cabelos curtos que ainda não reconheço de costas, mas que tens olhos que parecem lanternas para mim. os leio de qualquer canto do mundo, sob qualquer tempo e intempérie. um coração dividido, mas sempre compromissado. um coração que ama demais e não vê obrigação em ser responsável pelo que cativa. conselhos de mulher, jeito de criança.

uma abobadinha que chora ao contar uma das maiores perdas que a vida lhe exigiu. presidente do clube, ela seleciona candidatas para uma guerra que parece nunca ter fim. nós e nossos amores. nós descobrindo que amamos nós mesmas acima de qualquer coisa. selinhos para ela, porque essa morena-crespa-lisa merece. e a gente anarquiza, a gente vira do mundo de cabeça pra baixo, e pra isso só precisa cinco minutos e cinco garrafas de polar.

uma mulher importada de meia-calça azul. o vestido xadrez só combina com elas porque quem os veste é a nossa maluca feliz. risadas, comentários que só ela sabe dizer. e dá vontade de tirar fotografias mentais a cada nova risada que ela dá, a cada careta que ela ensaia quando eu conto fatos um tanto desagradáveis. eu guardo ela dentro de mim, mas queria poder a materializar toda a vez que eu apertasse um botãozinho. adulta, linda, como sempre, linda...

uma gilda que telefona de qualquer canto do mundo. se ela tivesse em outro planeta, tenho certeza que dava um jeito. nem o delay prejudica a nossa sintonia. nem anos fazem a gente se perder nos scripts de nossas vidas. e os gatinhos abobadinha? não, ela não parece estar se esmerando para merecer a sua carterinha. quero mais novidades, teleconferências, e-mails-bíblia pra gente poder se contar.

a gente acredita sim em finais felizes e na força estúpida que tem esse amor chamado amizade. porque sabemos o quanto é preciso flexibilidade para entender que mudamos, de cor de cabelo, de peso, de jeito e de opções para as nossas vidas. aceitar o amor sem colocá-lo em forminhas, sem querer dizer se é certo e errado. a gente conhece todos os nossos defeitos e seguimos sentindo falta de uma pitada sequer uma da outra. quando eu contar para meus filhos que um dia conheci vocês vou sentir aquela honra, aquela, que só a gente sabe. nossa amizade, livre, sem preconceitos, por mais "marcada" que esteja encontra sua melhor definição na colcha de retalhos que somos.

domingo, 3 de maio de 2009

fim de semana

Fim de semana chama
Alívio de alma e de mente
Juntar amigos, experimentar novos lugares.
Encontrar felicidade na possibilidade de apenas conseguir dormir um pouco mais.

Merecido descanso. A gente larga de mão as preocupações do trabalho, se solta sem relógio na rua...os ponteiros já não marcam horas e sim alegrias. Amigos, descobertas, conversas e risadas ao ar. Alguém redescobriu um amor, alguém está cansada de tentar, outras estão de caso consigo mesmas. Uma colcha de retalhos e de emoções. Comadres tricoteiam ao sabor de uma gostosa Polar.

Sentir que a vida nos aplica peças, truques. Formas de nos testar, formas de nos fazer ver além do que víamos. Nos redescobrimos através das pessoas e de nossas atitudes. E ao som da música, experimentamos uma entrega total. Sons novos, alguns antigos, letras decoradas e nunca esquecidas.

Um conselho novo para uma situação velha. Tentar se colocar no lugar do outro. Mas como dizia uma vez a mãe da Carolina, “é teu coro que arde”. E a gente nunca sabe como seria se fosse o nosso. A única certeza dessa vida é que sempre há uma nova chance para tentar ser melhor. Viaje, mude de apartamento, acabe um relacionamento. Pinte de novas cores o seu quarto. Um fim de semana para arrumar tudo por dentro e recomeçar. Sempre com mais força, sempre com mais vontade. Nem que seja para repetir os mesmos erros de novo.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

não tão a fim...

Poderia ser mais um filme onde se prometem finais felizes. Mas “Ele não está tão a fim de você” traz, através do pressuposto de que existe uma regra para relacionamentos amorosos, justamente a pulga atrás da orelha para confirmar o contrário: sempre existem as exceções. E pasmem, é sempre bom ser uma delas. O filme tem cenas hilárias, onde qualquer mulher, em uma fase ou outra da sua vida se enxergará. As esperas no telefone, a feia mania de manter um “step” para horas de carência e a surpresa com um novo amor quando tudo dava a entender que tínhamos zerado nosso caderninho de conquistas.

Entre as risadas e os clichês, consegui parar para refletir sobre algo bem maior que o filme...a relatividade de tudo na vida, a inexatidão do que pode ou não acontecer. Tentamos nos fixar a regras, tentar aperfeiçoar nossas condutas, mas a realidade é que tudo o que tiver que acontecer, irá. Daí deve ter vindo a necessidade de terem inventado o destino. Mentor de nossos caminhos, sábio articulador de momentos indesejáveis, que no fim, desembocarão em benefícios incontestáveis. E aí está outra grande sacada reconfortante do filme: a possibilidade de aprender com os fins. Enxergar um final feliz num término de relacionamento, pois se os olhos de quem enxerga querem, é possível ver as flores que estão ali, brotando dentro de nós. Novas idéias, novos horizontes, assumir que sim, podemos estar errados, podemos mudar de opinião. E quando entendemos o quanto a vida nos leva a destinos preciosos através de caminhos tortuosos podemos agradecer, mesmo que tardiamente, alguns golpes que ela nos deu e que nós, ainda crianças, não soubemos dar o devido valor e significado.