terça-feira, 16 de junho de 2009

príncipes desencantados

Basta uma mulher nascer, ler um conto-de-fada, construir em sua imaginação um príncipe encantado para que, alguém mais experiente (ou insensível), corte suas ilusões com uma frase-lâmina: menina, príncipes encantados não existem! Ok, não esquecemos que eles tem chulé, assistem a jogos intermináveis de futebol enchendo a sala de latinhas de cerveja, discutem a relação de corpo presente e pensamentos em lugares que você nem quer imaginar quais são. Mas nem por isso deixam de ser príncipes.

Homens-príncipes, de carne e osso, não sentem vergonha de amar, muito menos de estar ao lado de uma mulher e construir uma vida juntos. Dividem as contas no restaurante e mandam flores em um dia comum, não em datas comemorativas. Sabem surpreender, te ajudam com as compras do mercado e te dão a mão para subir mais alto. São fortes em seu 1,80m ou 1,60m de altura. Futebol é uma paixão, não maior que sua profissão ou sua família. Homens fortes não precisam de fanatismos como única forma de demonstrar amor. Fazem isso quando o sentem, com consciência e tranqüilidade.

Sabem identificar a beleza de uma mulher através de seus olhos. São ambiciosos na medida em que seus sonhos os alavancam para posições reais e desejadas com maturidade, mas mantém os pés no chão. Não prometem, executam. Falam menos e fazem mais. São reais e admitem um passo em falso. São seguros o suficiente para compreender que a sua amiga precisa de uma noite para assistir filme e dormir ao seu lado na cama. Pedem a sua ajuda e oferecem aquela que eles podem te dar, como um bom e velho amigo de infância. Sem mentiras ou enfeites. Príncipes não apelam para o cavalo branco e a capa cravejada de pedras preciosas para conquistar uma mulher.

E ainda te dão aquele beijo de deixar sem ar, te conduzem até o altar, cartório ou à porta do novo apartamento que vocês compraram juntos, em suaves e numerosas parcelas que parecem nunca acabar. Ainda te dão um final feliz. A cada dia em que vocês deitam juntos na cama, num acordo silencioso de lutar por um amanhecer mais tranqüilo. Sim, alguns homens que perambulam por aí ainda são os personagens que sonhamos outrora. Porque estão ali por nós e nos amam. Para reconhecer um príncipe é preciso analisar bem mais que uma chegada triunfal ao castelo ou o brilho impecável de seus cabelos à luz do sol. Você terá que ler nas entrelinhas e assumir a realidade dos bastidores para encontrá-lo. E não será por falta de encanto que esse encontro deixará de existir. Sendo um conto-de-fadas ou não, qualquer história que traz em seu roteiro características essenciais fortes o bastante para sustentá-la supera erros reais, perdoáveis e compreensíveis.

equilibrista

tem dias que acordo com espírito de artista mambembe
querendo viver de minha arte, de minhas estripulias
sonhar, criar, cantar uma canção em troca de algumas moedas rotas
vagar por estradas novas em busca de inspiração

ler poesias, ensaiar falsetes, chamar o Antônio e cantar até a noite cair
jogar cartas e beber na companhia dos amigos
cantar as minhas próprias músicas, com composição única e em consonância com meus sentimentos
dar vazão a tudo que sou por dentro de forma mais enfeitada, cheia de lirismos e versos

mas tem dias que acordo lógica
amante da exatidão da matemática, querendo ser a rainha dos processos
dizer que se x é y e se y é m, logo x é m
cumprir prazos, riscar itens da agenda
vibrar com o fim de um expediente e me declarar escrava da rotina

porque tudo que é mais palpável, real, nos dá conforto
e tudo que é solto, livre, nos faz sentir inseguramente felizes
e desses dois opostos vivemos, ora cedendo ao céu, ora ao inferno
equilibristas de uma corda bamba que nunca terá fim
e nos fascina, sim, nos fascina...

domingo, 14 de junho de 2009


Minha fé está ali, por diferentes caminhos que eu possa escolher, por qualquer ato que venha experimentar. E quando me sinto fraca, por ter agido diferente do que planejava, por ter dado um passo infalso, ainda estou de mão com ela, como uma criança que sempre precisará de apoio.

Andando na rua num dia bonito de sol, ela me pisca do alto e me faz sentir profundamente o quanto sou especial unicamente por existir. As dificuldades parecem menores nesses momentos e recobro a confiança em mim, acredito em minha força, em cada uma das minhas escolhas.

E mesmo quando a abandono para viver mais no mundo real, sempre é hora de retornar e encontrá-la intacta dentro de mim. Porque existir e ser humana, única e especial é se conectar com o que somos. Termos consciência de nosso crescimento, dos obstáculos que precisamos alcançar.

Nos dias em que choro, que não acredito na beleza das coisas, sempre sei que a hora em que me encontro com minha fé é a hora em que terei paz em meu coração. A resposta para todas as aflições, a certeza de que sou bem mais do que qualquer impedimento que a vida possa colocar em meu caminho.

E que no final de tudo, levarei o que de mais valor vivi, aprendi e conquistei. Viverei eternamente em minha fé, na certeza de que precisei nascer, caminhar e lutar por cada presente que alcancei aqui, deixando de lado, assim, as inseguranças e o medo que habitaram em mim.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

as duas dores

O objetivo do blog não é reproduzir textos, mas esse eu não poderia deixar de postar aqui. Obrigada Dai, que me passou esse texto em um momento muito oportuno.

Existem duas dores de amor:A primeira é quando a relação termina e a gente,seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro,com a sensação de perda, de rejeição e com a falta de perspectiva,já que ainda estamos tão embrulhados na dorque não conseguimos ver luz no fim do túnel. A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel. A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços, a dor de virar desimportante para o ser amado. Mas, quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida:a dor de abandonar o amor que sentíamos. A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre,sem sentimento especial por aquela pessoa. Dói também…Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou. Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém. É que, sem se darem conta, não querem se desprender. Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um souvenir,lembrança de uma época bonita que foi vivida…Passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação à quala gente se apega. Faz parte de nós. Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis,mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo,que de certa maneira entranhou-se na gente,e que só com muito esforço é possível alforriar.É uma dor mais amena, quase imperceptível.Talvez, por isso, costuma durar mais do que a ‘dor-de-cotovelo’propriamente dita. É uma dor que nos confunde.Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. A pessoa que nosdeixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos porela, aquele amor que nos justificava como seres humanos,que nos colocava dentro das estatísticas: “Eu amo, logo existo”.Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo.É o arremate de uma história que terminou,externamente, sem nossa concordância,mas que precisa também sair de dentro da gente…E só então a gente poderá amar, de novo.
(Martha Medeiros)

segunda-feira, 1 de junho de 2009

a flor

Ela pega a flor do vaso, a tira da água, pensando que assim seria mais fácil lhe tirar a vida. Um movimento simples, rápido e a beleza das pétalas vermelhas estaria intacta, em um momento último antes que o tempo a fizesse murchar por inteira. O perfume ainda está no ar, mas não é o mesmo. A flor perdeu já a cor. Não é mais como a primeira que colheu no jardim do avó, jovem, fresca, envolta de uma ilusória história. As coisas perdem seu sentido. Se ressignificam a todo momento.

Agora as flores são compradas em floriculturas e não mais retiradas em manhãs de frio, sob o orvalho que imprime suas gotículas únicas em cada folha verde-musgo que ela admirava quando criança. Uma, duas, três. Iguais, parecem terem sido feitas em uma máquina de flores manufaturadas. Buquês enormes, alegóricos, mas sem sentido. Nenhuma outra flor se parece com aquela que ela colheu em seu jardim, lendo histórias que a faziam acreditar que as flores eram únicas.

Agora, começa a aprender que é necessário apreciar outras flores. De outras cores, procedências, nascidas em terras que ela não conhece. Abrir a cabeça e o coração para aceitar coisas novas. Entender que é preciso preparar o olhar também, para encontrar novos encantos. Porque se a imagem da primeira flor estiver ainda retida em seus olhos, como poderá ela encontrar uma nova beleza?