segunda-feira, 25 de julho de 2011

e a receita era uma dose de rotina diária até o fim de seus dias


Quando criança eu pensava em desafios sofisticados, extremos, taquicardias, separações, euforias ou momentos de pânico transbordante. Eu acreditava que isso seria o mais difícil de superar, ou seja, o que é obviamente difícil de ser superado: morte, demissão, uma gravidez inesperada, uma puxada de tapete. Mas daí a vida te mostra que o que realmente faz o ser humano definhar é o que vem aos poucos. Lidar com a rotina é o desafio maior. Não meus amigos, eu não estou tirando aqui o peso das agruras da vida acima mencionadas. Elas realmente sacodem nossas estruturas. Mas lidar com elas no trivial do dia é o pior. Digerir o fim de um relacionamento nos anos subsequentes ao do dia do fim faz a data parecer algo pequeno. Superar a falta de um ente querido nas datas comemorativas que virão em família é mais dolorido do que a hora do enterro. Esse veneninho em conta gotas é o mais difícil de encarar. É o que mais arde na pele.

Assim como a rotina de controle diária a que um ser humano é submetido. E, muito importante, a rotina que um dia, aceitamos nos submeter. Não lembro de ter assinado nenhum contrato prévio com essas cláusulas, nem de terem me questionado se eu queria uma vida assim. Tenho quase certeza que teria escolhido aquele pacote da vida excêntrica de uma repórter de uma revista de turismo que precisa escrever sobre cada um dos dias que passa em diferentes partes do mundo. Ou o da nativa das ilhas do oceano índico, em contato com a natureza e num mundo bem menos capitalista. Uma marroquina super espiritualizada e apegada às suas tradições. Mas não vamos nos enganar, não é mesmo? Eu estaria reclamando de solidão no primeiro caso, alienação no segundo e opressão no terceiro.

Ou seja: o grande desafio é justamente esse. Conseguir ser feliz nas possibilidades que existem. Fazer essa tarefa diária de contrabalançar os pesos da vontade e das exigências que precisamos cumprir com nós mesmos. Sair da cama num dia de inverno, às 6h30min para ir na academia, dia após dia e criar essa disciplina. Comer o correto, comprar o que cabe no orçamento, poupar para o futuro, ter sonhos reais...

E mais uma vez, cá estou eu, repetindo o óbvio para garantir que ele não seja uma fase, mas uma realidade na minha vida. E haja anos de amadurecimento! A única certeza, é que o tempo faz muito bem àqueles que estão sempre abertos e dispostos a ser melhores (é claro que, quando falo “melhores” me refiro ao melhor dentro da realidade de cada um, não mirando a flecha no inatingível e vivendo da angústia de nunca chegar lá). E esse tema do inatingível já rende mais umas boas laudas de conversa com o editor de texto...