sábado, 7 de novembro de 2009

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Hoje é um daqueles dias de parêntesis. Parece que viro a Sofia do livro de Jostein Gaarder e subo no alto do pêlo do coelho para ver tudo. Minha sensibilidade está exacerbada e por isso a capacidade de aprender e sentir é um fenômeno sinestésico. Grandes eventos, emoções fortes e marcantes me fazem ficar assim. E eu vivo dentro desse parêntesis até que as coisas voltem para a sua medíocre normalidade.

Nessas horas consigo me enxergar como eu mesma, dentro de meus defeitos, consciente de minhas escolhas, por mais erradas que sejam. Consigo me ver como ser humana falha e me aceitar ao mesmo tempo. É como uma mulher vaidosa aceitando suas rugas. Porque elas denotam sua experiência, maturidade e jogo de cintura na vida.

Chegando aos 25, ¼ de século, confesso modestamente que já tenho meus sinais de idade gravados subjetivamente em algum canto do meu ser. Dores, fugas, amores, desejos...e a sabedoria de confessar quando perdi, quando o tempo passou demais e o instante foi perdido. E ao mesmo tempo, a certeza de que existem coisas que nunca mudam e que nunca conseguirei deixar que passem por mim sem que sinta inteiramente vontade de vivê-las, agarrá-las e nunca mais deixá-las longe. Dessa inexatidão e antítese se faz a vida. Pela dualidade de sentimentos, pela capacidade de soltar-se ao seu bel prazer, deixar que os caminhos se façam, certos de que, quando nos compreendemos e nos amamos, aceitando nossa dura mas real forma de ser, somos capazes de ser vencedores, independente das condições do jogo.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

crônica de um dia qualquer

Hoje o tempo voltou às boas comigo. E ficou por instantes de mãos dadas com meu tédio, mas logo se rebelou. Mostrou que é senhor dos destinos mesmo, bagunçou o sentimento de quem estava de bem com a vida. Cobrou-me em prazos e escandalizou o que havia de justo em mim. Fez-me preguiçosa e culpada, a mistura mais vil que poderia existir.

Deu-me mar, céu azul, gargalhadas e música em alguns dias. E passou ligeiro, como quem não quer assumir autoria, sair de fininho deixando apenas o rastro do perfume. Chegou implacável ao fim do dia, cobrando por enigmas. Obrigou-me a entrar na bagunça interna e externa, ré de sua acusação, sem argumentos, muito menos técnicas de defesa.

Já hoje mostrou o outro lado da pressa. Aquela que deixa a angústia particular e minha testa franzida, rugas, não as quero, pelo menos ainda. Testando minha autoconfiança e atestando minha mediocridade quando o que se está em questão é cumprir com as metas que sonhei realizar. Fazendo-me sangrar para mostrar que sou humana. Como qualquer outro que vaga pelas ruas, senta em cadeiras de escritório, vira as páginas de calendário e afirma “meu Deus, o Natal já está aí, é novembro”. Um exército de cumpridores de rotina, marchando para os mesmos fins, iludindo-se com suas metas-de-cera, reais, mas tão falsas e cíclicas, tão destinadas a morrer no simples ato de nascer.