segunda-feira, 19 de abril de 2010

todas em uma só

Tive 12 anos há algumas luas atrás. Era minguante, uma unha no céu, quase desaparecendo. Minha mãe se materializou dentro de mim e sua voz se manifestou por meus olhos fixos no nada para evitar um beijo. Criança.

Sou uma anciã com a sabedoria atestada na pele das mãos, marcadas pela seratose e pelas veias saltadas, quando divago em dias inspirados. A sensação é que já percorri milhões de dias nesse mundo e já desvendei todos os seus segredos. Clarividente e prepotente, nessas vezes, tenho a certeza de que não preciso mais viver nada: descobri o mistério que nos cerca e nos perturba.

Pareço ter completado os 40 quando dou conselhos. Tenho o equilíbrio da maturidade e o positivismo de quem já caiu alguns tombos, mas ainda sabe que tem muito gás para concertar os tropeços. Acredito, tenho fé e sei dar caminhos novos a mentes que não encontram sequer uma brecha no muro erguido com alicerces profundos e recheado de concreto armado.

Tenho meus 25 quando acredito que ainda posso transformar o mundo através de meus atos. Sonho, crio estratégias, indigno-me com quem vê a vida diferente de mim. Arquiteto formas de não viver dentro da lógica que me impuseram. Quero doar meu tempo, meu sangue, em prol de ideais. Mas tenho 4 quando, depois de falar e brincar, encho a barriga, tomo um banho e quero só um berço quentinho para repousar meu corpo e esquecer de todas as responsabilidades que a missão de existir me traz.