terça-feira, 21 de setembro de 2010

(dos textos inacabados no meu desktop) 2

O pior engessamento é o de alma
Aquele que vira concreto debaixo dos panos
Disfarçado por atitudes fugazes e uma falsa adaptabilidade

Eu sou assim
Tenho sido, pelo menos
Passam eras dentro de mim para que algo mude
Teimo contra as constatações da vida

Porque é necessário que o mundo me mostre aquilo que não quero enxergar?

Aí um dia tentei me contar umas verdades, pra ver se me convencia
Fico andando debaixo do guarda-chuva dizendo repetidas vezes a mesma coisa

E nada acontece

(dos textos inacabados no meu desktop) 1

Tá, assim...só agora...
Me permiti abrir uma brecha no meio das coisas de sempre que faço todo dia
Essa coisa regular da vida me dá dores nas costas
Sinto como se tivesse uma estrada linda pra percorrer e eu tivesse presa a um carrossel de um parque de diversões enferrujado

Sim, eu tenho sonhos
Muitos não cabem em mim
E tenho uma mente um tanto infantil pra meus 20 e quase 6 anos.

Agora no corredor equilibrando meu café com um gosto de cravo no fundo, pensei que sou quase que um meio termo ambulante
Opto pelo equilíbrio e não vazo, não transbordo em nenhum sentido

Não sou nada fina, nada correta
Sinto prazer em transgredir, sim, mas as regras me prendem.

(...)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

um jeito novo de caminhar

Eu enxerguei uma escada e senti que eu podia subir e descer quando bem precisasse. Porque há sempre um retorno, um caminho novo para quem quer voltar ou fazer diferente. Eu olhei bem dentro de mim, como minha natureza me fez, questionadora e compreendendo que o mundo é bem mais do que se vê. E descobri sonhos por construir. E encontrei força para torná-los realidade.

Ser acolhida e entender que há uma energia de amor que nos rodeia é a melhor mola propulsora. Para sermos, nem mais, nem menos, mas, aquilo que realmente somos. Não existem caixas em que devemos entrar. Nem regras para nos limitarmos. Não tenho mais medo da beleza da complexidade. De dizer sim e não, de viver com o espírito livre e amadurecer a cada dia.

Como vamos amar aquilo que não conhecemos? Ser é um processo de construção. Não nascemos prontos. Nos fazemos a cada novo dia, a cada nova escolha, a cada nova renúncia. E não há prazer maior do que viver dia a dia, com os braços bem abertos e com o espírito bem alimentado daquilo que é bom e verdadeiro.

“Torna-te quem tu és” (Nietzche)

“Peçam, e lhes será dado. Procurem e encontrarão. Batam e abrirão a porta para vocês. Pois todo aquele que pede, recebe, quem procura, acha, e a quem bate, a porta será aberta” (Jesus Cristo)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

apenas mais uma de amor


Eu não brigo com a vida. Se ela me mostra os dentes, eu mostro o coração. Maldade nesse mundo tem demais, mas eu ainda confio em valores e os coloco na trincheira para driblar qualquer coisa. Olho gordo, figas, feitiço, vontade de puxar tapete...eu derrubo tudo isso com amor. Porque ele é a força que a gente necessita, ele é a essência que está em qualquer coisa construtiva. Amor da humildade que sabe esperar e respeitar o espaço do outro. Amor da paciência de aguardar o crescimento de alguém que ainda não amadureceu e sai metralhando a alma dos outros. Amor do respeito às diferenças e do entendimento de que ninguém precisa seguir regras pra ser bom, sociável e aceitável.

E amar não é aceitar tudo. É preciso se posicionar, encarar alguns conflitos, às vezes. Mas nunca perder a ternura, como dizia Che Guevara. Ele falava de um sentimento que hoje é confundido com fraqueza. Mas só os fortes sabem o poder encerrado em seu conceito. Manter coerência de espírito e ações também é tarefa que exige disciplina e coração. Quantas vezes tu já criticou no outro aquilo que em ti explode nas horas mais funestas?

O exercício da alteridade é precioso para quem não veio à vida a passeio e quer ser mais do que um simples grão de areia nessa existência que lhe foi proporcionada. Eu vejo que existe sim, muita gente carregando trombas de elefante e orelhas de burro por aí porque negou o crescimento e não provou ainda o doce sabor de se desconhecer e chegar à conclusão do erro. Existe coisa melhor do que ressignificar um conceito? Quebrar os paradigmas que se tinha, baixar a guarda e confessar que, enfim, aprendeu?

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Passagens de avião para todas as rotas do mundo. Eu ficaria dois segundos até em cada recanto desse tudo, visitando espaços novos, viajando com a cabeça, sem fazer reservas, só vivendo do pedido de morada. Arriscaria minhas vidas, ganharia novas, faria uma história diferente para esse meu roteiro já cansado. Acho que até me deixaria encontrar o amor em algum par de olhos que não falasse minha língua. Para a comunicação ser mais precisa e sinestésica, nada de dialetos pra ajudar na conquista.

Porque parece que a gente deixa uma bolha nos enrolar na rotina, na vida que a gente sempre conheceu, e dificulta nossa revisita ou descoberta. Tira a coberta de cima e descobre novos sons de enxergar, novas caras pra tocar. O som sai fácil da minha boca, leve e solto, mas não sei direito o que ele quer cantar. Talvez seja só eu mesma que me deixo escondida lá, só por medo ou teimosia. Será que preciso deixar bastante para um dia cansar?

terça-feira, 20 de julho de 2010

a eles, os que sabem ser

Sim, acho que é piegas e muitas vezes soa exagerado. Mas me emociono toda, me arrepio, nesses dias como o 20 de julho. Revisito fotos, lembro momentos e parece que me alimento deles a cada vez que retorno nas lembranças. As fotos realmente eternizam instantes. Porque são signos que iluminam mais uma vez as marcas deixadas pelos fatos no momento em que aconteceram.

Hoje minha alma se iluminou de várias maneiras e em vários recantos escondidos. Lembro de coisas absurdas, sorrisos, histórias cômicas...e eles estavam todos ali...meus amigos. Como esquecer do que cada um trouxe para minha vida? Na estranheza de seus jeitos, nas suas particularidades mais comuns ou complexas. Alguns me ensinaram a chorar mais, outros a ser madura e ao invés de reclamar, superar. Outros me convenceram que sim, é preciso rir da vida e do próprio tombo. Através do exemplo, me mostraram que levar a vida tão a sério não é sinônimo de sucesso. Muitas vezes vencemos os obstáculos justamente, por ter brincado mais e ter deixado exigências de lado.

De cada um fui extraindo lições e, através da comparação inevitável que fazemos com todo e qualquer ser humano que entra em nossas vidas, fui crescendo ainda mais. Amigos são degraus para o nosso crescimento interior. Eles oferecem matéria-prima pra amadurecer e se superar. Eles são nossos espelhos quando os criticamos e, na verdade, estamos apontando falhas em nós mesmos.

E se amar é piegas, se ruminar esse amor e falar aos quatro ventos que ele existe é exagerado ou soa redundante, eu sou essa pieguice em pessoa. AMO e repito.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

menina da noite, mulher do vento


Quando a noite cai, um sol se levanta em mim. Deito a rosto perto da janela e abro os olhos para mergulhar na noite. Gosto do céu estrelado, do cheiro da escuridão, da chuva e do vento. Quando era pequena, sonhava com uma cama que fosse como uma sacada coberta de vidro, um pouco fora do quarto e dentro do nada. Para eu poder contar estrelas à noite e criar sentido para as nuvens. Criar significados também dentro de mim.

Lembro de olhar o céu também quando andava de carro, imaginando o porquê de estar no mundo. Eu devia ter quatro anos e ninguém sabia de meus pensamentos. Hoje eu falo demais, mas nem sempre conto meus devaneios. Sou um mistério para mim mesma. E adoro poder me descobrir. Sempre e cada vez mais. Mesmo sem falar e contar ao próprio vento quem sou.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

vendada, na corda bamba


Quando sinto aquela coceira na alma, a inquietude de quem percebe o imperceptível, escrevo. Não sei por que acredito na verborragia como cura dos males de existir. Dúvidas e questionamentos são comuns aos seres humanos, sim. Mas cada um encontra ou elege a defesa que parece mais agradável, ou simplesmente possível.
Tem gente que faz humor da própria desgraça. Pinta com deboche as feridas e acaba as fechando....ou simplesmente trocando-as de cor. Outros ignoram os próprios sinais da consciência...olhar a paisagem sem notar os detalhes, comer a maçã sem ver aquele sinal de machucado...interessante maneira de sentir o lado bom, mesmo que um dia as comportas percam a resistência e não consigam mais segurar a avalanche do que foi represado.
Ainda existem aqueles que caminham curvados, empunhando lupas ao examinar o que sentem. Usam o perfil investigativo também para dissecar os sentimentos. Dão nomes a tudo, como se a alma tivesse anatomia. Um nervo, um coração, um osso, dois dedos de angústia, um passado carcomido, dois pés gelados do inverno solitário. E se perdem nos detalhes. E esquecem do todo. Nenhum farol consegue trazer de volta um navio que naufraga nos seus próprios pormenores.
Nessas horas chego ao óbvio, elegendo ele como a solução, o elixir mágico de toda e qualquer situação. Equilíbrio, sim, a ele, todas as homenagens. É sua perfeição que nos faz andar na corda bamba, sentir o frio na barriga da altura, caminhar com retidão, sendo com sapatilhas de bailarina ou saltos altos de mulherão. Mais uma vez, aqueles que sabem dosar, os verdadeiros alquimistas, ganham a vez e a voz. Porque viver é uma arte de composição, do bom, do mal, do intenso e do banal.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

todas em uma só

Tive 12 anos há algumas luas atrás. Era minguante, uma unha no céu, quase desaparecendo. Minha mãe se materializou dentro de mim e sua voz se manifestou por meus olhos fixos no nada para evitar um beijo. Criança.

Sou uma anciã com a sabedoria atestada na pele das mãos, marcadas pela seratose e pelas veias saltadas, quando divago em dias inspirados. A sensação é que já percorri milhões de dias nesse mundo e já desvendei todos os seus segredos. Clarividente e prepotente, nessas vezes, tenho a certeza de que não preciso mais viver nada: descobri o mistério que nos cerca e nos perturba.

Pareço ter completado os 40 quando dou conselhos. Tenho o equilíbrio da maturidade e o positivismo de quem já caiu alguns tombos, mas ainda sabe que tem muito gás para concertar os tropeços. Acredito, tenho fé e sei dar caminhos novos a mentes que não encontram sequer uma brecha no muro erguido com alicerces profundos e recheado de concreto armado.

Tenho meus 25 quando acredito que ainda posso transformar o mundo através de meus atos. Sonho, crio estratégias, indigno-me com quem vê a vida diferente de mim. Arquiteto formas de não viver dentro da lógica que me impuseram. Quero doar meu tempo, meu sangue, em prol de ideais. Mas tenho 4 quando, depois de falar e brincar, encho a barriga, tomo um banho e quero só um berço quentinho para repousar meu corpo e esquecer de todas as responsabilidades que a missão de existir me traz.

segunda-feira, 15 de março de 2010


Perguntei ao medo o segredo de paralisar sonhos. Ele disse que a tônica dessa arte reside na tomada de consciência de sua vítima. “Faço-a confiar que não sou eu, mas é ela mesma”, disse ele. Entendi porque é tão fácil tripudiar sentidos, fazer algo de fora parecer que vem dentro da gente.

Já senti medo e foi bom. Me fez parar quando avançar seria pior. Mas quando entendi que nasci com um coração prudente, que foi me dado pela natureza e por um espírito maduro de anos de vida em vidas quaisquer, consegui enxergar a destreza dele, o medo. Me tomando aos poucos, sugando meus sentidos e confundindo a minha vista turva pela confiança de forma exagerada. Começa com um coração palpitante. A voz retorna ao invés de procurar saída. Tremo às vezes. E retrocedo.

Confundo um passo com um acesso ao abismo. Entendo-me inteira e fácil de quebrar. Não, não quero imaginar que vim para ser indestrutível ou eterna. Mas a gente tem muito de planária nessa vida. Nos cortam pedaços e os reconstruímos. Nos tiram anos de vida, investimentos de sentimento e conseguimos ressignificá-los com o amor por nós mesmos. E foi aí que relembrei da auto-defesa que já tenho. Aprendi a entender que eu não preciso de tanto medo. Por isso, me vejo tentando subestimá-lo para poder me lançar à vida.

Não preciso de trancas, chaves, saio na rua destemida e irresponsavelmente calma. Porque não são os outros, a vida, o tempo que me põem medo. São minhas iniciativas, minha capacidade de mudança, meu senso de reconstrução. Aprendi a dizer não a esse medo, mas assim como uma criança, ele precisa ser relembrado e castigado inúmeras vezes. Talvez um dia ele cresça, de maturidade e não intensidade, deixando eu ser mais leve e irresponsável em minhas tentativas de viver novas chances.