terça-feira, 27 de outubro de 2009

eu e a noite

Adoro madrugadas. O silêncio na casa, a sensação de estar sozinha, comigo. Parece que tudo fica mais possível de ser feito e analisado. A noite, a lua, tudo parece ter um sentido diferente. Enquanto os outros dormem, eu acordo para a noite, e sempre fui assim.

Lembro quando a madrugada significava para mim momentos de cumplicidade com a minha mãe. Minhas irmãs já estavam na cama, assim como meu pai, que sempre cochilava no sofá bem cedo. Era como se fosse um segredo nosso: era hora de pegar as provas dos alunos dela e corrigir. Eu ajudava somando as notas e registrando alguma coisa no caderno de chamada. Sentia-me importante, adulta e até olhava e entendia o Programa do Jô que ficava como plano de fundo daquelas nossas noites, momentos divididos por amigas e não só por mãe e filha.

Hoje a noite pra mim continua sendo especial. Sou uma boêmia assumida, adoro ficar sentada em um barzinho na companhia dos amigos, jogando papo fora, acompanhado por uma bebida gostosa de degustar. Mas o melhor da noite é caminhar nas ruas. Cada esquina e avenida se revela com a inexistência dos sons do dia-a-dia, sem aquela agitação alienadora que experimentamos nas áreas urbanas com o sol a pico. Gosto de sentir o vento batendo forte no meu rosto, revirando meus cabelos...a noite e o vento sempre parecem ser meus cúmplices e por isso o medo, infelizmente em alguns contextos, nunca me acompanha. Voltar para casa, quando posso caminhar sozinha, é um dos exercícios mais relaxantes e revigorantes que existem. Uma daquelas inúmeras coisas que sabemos que são proibidas, mas nos damos o direito de vivenciar, por prazer. Nem que seja por um dia apenas.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

muito menos

Cheguei correndo na parada, mais uma vez, sempre atrasada. É preciso calcular o tempo do engarrafamento, sair antes para chegar depois. Nunca decoro os ônibus que me levam até onde quero ir, preciso perguntar “moço, pára na esquina da Vicente?”. Parece que dessa vez tive sorte, acertei de primeira e o ônibus estava quase vazio. Fones de ouvido, bocejos. Olho para o lado e passa um ônibus, simplesmente, com pessoas saltando pelas janelas. O contraste entre o meu espaço e o que eu observava me fez pensar no quando o muito, às vezes, é negativo. Muito dinheiro no bolso é bom, muita gente no ônibus é estressante e incômodo. Mais uma vez, a relativização das coisas me faz refletir. Não é possível estipular o certo e o errado, encerrrar essas definições dentro de conceitos imutáveis. Eu enxerguei mais uma vez os rostos de tantas cores e expressões passar por mim, que confortavelmente acomodada, olhava pela janela. Porque será que a gente acha então que excesso de algumas coisas pode fazer bem? Até amor demais desgasta, perde a graça, se esvai. Até amor que em si, já é algo bom. A figura da balança me vem à mente, e eu mais uma vez me convenço da necessidade de equilíbrio de que a vida precisa. Dosar sentimentos, atitudes, ponderar um pouco mais antes da necessidade de ação. Eu segui minha viagem, buscando entender como chegar até esse ideal de....sei lá....um ideal, já é algo irreal em si.