segunda-feira, 18 de abril de 2011

adolescer


Quem não adolesceu fora do tempo ou de contexto, uma vez na vida, que atire a primeira pedra. Que faça a primeira crítica. Mas isso pode ter acontecido durante alguns segundos, em que você deixou de ter a responsabilidade que adquiriu em anos. Em uma birra descompromissada, ou quando fingiu ser um super-herói na vida real. E daí, já adolesceu? Pense, com certeza você já fez isso fora da faixa etária permitida para se agir de forma inconseqüente.

E se é pra falar, eu confesso: eu adolesci e tenho adolescido. E sabe que não tira pedaço e é um exercício construtivo? E o melhor: poder adolescer quando já se é maduro (entenda, os atos adolescentes aqui são um estado, o amadurecimento é um fato) faz a curtição ser uma coisa bem diferente. Existe uma segurança e um entendimento absurdo. Tu anda de mãos com teu superego e estabelece um diálogo tranqüilo, ao contrário de fugir e se esconder desse moço chato que tem o papel de toda hora relembrar das (in) conseqüências de teus atos.

Costumo agradecer à censura de minha mãe na maioria das vezes que ela foi meu superego quando eu era realmente, um ser adolescente. Mesmo tendo contribuído pela minha transformação em uma adulta um tanto medrosa e desconfiada, hoje vejo que ela fez muito certo. Criança e adolescente tem mais é que respeitar ordens. Seguir o trilho que ensinam. Essa coisa de que “pagam as tuas contas” e tu “nem sabe se limpar” é verdadeira. Como deixar um projeto de gente sair dando cartadas sem conhecer as regras do jogo?

Mas repressão, todo mundo sabe, não é o caminho. Se dar liberdade demais na hora de agir é ruim, dar liberdade e acesso ao conhecimento é bom demais! Não é preciso sair experimentando tudo sem preparo. Ler, perguntar, conhecer pessoas que já passaram por aquela situação, isso sim. Essa liberdade dá a capacidade de saber realmente, a hora de tentar. Entendam, não estou aqui dizendo que a gente se arrepende do que faz e que as vivências não são necessárias. Mas vivência com consciência é inteligência. Aquela máxima que diz que a gente só aprende levando na cara é verdadeira em parte, a meu ver. Eu acho que quem dá a cara à tapa demais é burro.

E daí tu vê as inconseqüências. Gente adulta que, de tanto se atirar na vida, acostuma a apanhar. E confunde coragem com imprudência. E tentativa com persistência no erro. Ser medrosa, não. Ser cautelosa, sim. Escolher em que briga entrar. Eu escolho meus adversários e me preparo pra luta. Não gosto de levar porrada de graça.

É esse adolescer maduro que a gente se permite ter. Uma atitude criançóide aqui, uma inconseqüência acolá. Pelo prazer do tentar só depois do saber, pela experiência de viver uma coisa nova sem se lanhar toda num chão de concreto. É ser trapezista com rede de segurança. E confesso gente, o prazer é ainda mais intenso quando somos seguros de quem somos.

terça-feira, 5 de abril de 2011

pensar e pesar

Coração acelerado há dias. Ele anda a galope dentro de mim. Olha pro lado, olha pra dentro e não sabe o que faz. Duas letras infames dançam suspensas por fios de nylon no meu estômago. Um “s” e um “e”. E se? E se você fizer errado? E se o outro caminho for melhor? E se você nunca descobrir o que tinha lá embaixo do buraco?

Enquanto foliões bebiam e se acabavam nas ruas e nos clubes, eu tive um Carnaval sem serpentina e confete. Eu tive dúvidas, eu analisei critérios exaustivamente. Porque disso depende a nossa vida. De nossas escolhas. Tentei jogá-las para onde pude. Questionei amigos, pessoas mais velhas, pai e mãe. Como uma boa jornalista ouvi diversas opiniões. E fiz a minha matéria expositiva. Esse vício de buscar a imparcialidade me torna um ser que caminha em cima do muro, mas que sente ímpetos de se atirar a todo o momento. Lançar-me ao novo é sempre um movimento mais natural do que o de permanecer. Só que antes de se jogar é preciso pensar e pesar. E isso é sempre penoso.

Aí é a hora da gente dizer aquela frase apaziguadora dos ânimos internos “O que tiver que ser vai ser”. A gente sempre “entrega a Deus” ou ao destino, a inevitabilidade dos fatos, o próximo passo. É como se livrar, sem receber a alcunha de covarde, é como não se responsabilizar pela conseqüência. Uma vez disse isso e recebi uma resposta rápida: “Não Clarissa, era para ser, para mim não existe. As coisas podem ser, porque construímos a possibilidade de serem, não concorda?” Sim, concordo. Mas não sou um ser cético e adoro pensar que há em nós, seres humanos, alguns fios de nylon (mais uma vez eles) e forças superiores que nos jogam para certos lugares. E mais uma vez, subo naquele muro. Não consigo ter uma opinião certeira. Odeio certo e errado, sim ou não. Prefiro dizer que, em se tratando de vida, há inúmeras forças agindo e nós somos o resultado daquelas em que acreditamos.