Ela pega a flor do vaso, a tira da água, pensando que assim seria mais fácil lhe tirar a vida. Um movimento simples, rápido e a beleza das pétalas vermelhas estaria intacta, em um momento último antes que o tempo a fizesse murchar por inteira. O perfume ainda está no ar, mas não é o mesmo. A flor perdeu já a cor. Não é mais como a primeira que colheu no jardim do avó, jovem, fresca, envolta de uma ilusória história. As coisas perdem seu sentido. Se ressignificam a todo momento.
Agora as flores são compradas em floriculturas e não mais retiradas em manhãs de frio, sob o orvalho que imprime suas gotículas únicas em cada folha verde-musgo que ela admirava quando criança. Uma, duas, três. Iguais, parecem terem sido feitas em uma máquina de flores manufaturadas. Buquês enormes, alegóricos, mas sem sentido. Nenhuma outra flor se parece com aquela que ela colheu em seu jardim, lendo histórias que a faziam acreditar que as flores eram únicas.
Agora, começa a aprender que é necessário apreciar outras flores. De outras cores, procedências, nascidas em terras que ela não conhece. Abrir a cabeça e o coração para aceitar coisas novas. Entender que é preciso preparar o olhar também, para encontrar novos encantos. Porque se a imagem da primeira flor estiver ainda retida em seus olhos, como poderá ela encontrar uma nova beleza?
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Adorei este! Não sei comentar mais nada sobre ele, fala por si só. Me tocou bastante. Belo texto, Clarissa.
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